Wednesday, November 6, 2013

Júlia por ela mesma


Caminho por uma noite escura,
Por uma estrada sem fim,
Uma vida sem fim,
Sem alma.

Busco a multidão para ter vida,
Para encher de vida esta carne maldita.

Seu sangue é a seiva que me alimenta,
Cora meu rosto,
Dá forças a meus braços,
Aquece meus lábios.

Perguntas então se sou a razão te levando à loucura
Ou a insensatez da ilusão que te acorrenta.

Sou um ser da noite,
Criatura das trevas
O tudo, o ápice
Ao desejo o momento propício,

Por outro lado,
Eu nem existo
Sou o nada, o abismo,
Um salto do precipício.

Sou a mais deplorável das criaturas
Que não merece nem a redenção do paraíso
Nem o castigo do fogo do inferno.

Tenho em minhas mãos
O sonho de toda humanidade
O tesouro da juventude
E a maldição da eternidade

(Tão sonhada por tantos,
Tão desprezível para mim.)

Na calada da noite,
Quando imaginas estar sozinho
Estou ao teu lado,
Amando seu perfume,
Sentindo a sua alma,
Desejando seu corpo efêmero,
Invejando seus cabelos brancos...

Assim sou eu,
Assim somos nós
Os piores predadores da raça humana.
O seu pior pesadelo.

Júlia Fernandez - mar/2005

Tuesday, October 22, 2013

A vida, que engraçada...

A vida é mesmo muito engraçada... Sinto-me no direito de falar dela, já que não participo mais dessa grande aventura...

É engraçado como os momentos em que nos sentimos bem, não precisam ser colocados no papel... Talvez por isso não escrevo há tanto tempo... Há tanto tempo que tinha a felicidade de mãos dadas comigo, como melhor amiga. Tudo bem que esse tempo, na verdade, não é nada perto da eternidade que me aguarda.

É engraçado que quando tudo vai bem, o que queremos é viver e que se exploda o resto... Prá quê palavras? No momento de felicidade elas estragam tudo...

Mas quando tudo dá uma reviravolta e, finalmente, o inevitável acontece, a felicidade te olha nos olhos, oferece um último momento de prazer e parte com um aceno. A nuvem encobre o sol que brilhava tão gostoso, tão quentinho, e o que sobra são as palavras...

Na verdade elas não são suficientes nessas horas também... Nem todas palavras do mundo estancam o sangramento de um coração. Resta deixar que as lágrimas enxaguem toda melancolia que o envolve.

E é assim que se faz: Primeiro, chora-se uma noite inteira... depois um pouco por noite... depois um pouquinho por uma lembrança, uma foto, uma saudade...

Até que se acostume com a ausência, com a saudade e com as lembranças... As lágrimas dão lugar, finalmente às palavras.

Não, elas nunca serão suficientes... servem apenas como alívio, o grito perdido no escuro da noite. O coração vai inchando até explodir e lançar todas pelo ar, onde se perdem, já que não importam a mais ninguém. Já que pertencem a única pessoa a quem elas jamais irão atingir...

Mas e daí, quem se importa? Se forem suficientes para amenizar as perdas desse jogo da vida, está bom.

O único problema é quando não se participa mais desse jogo... e é necessário fazer isso pela eternidade.

Júlia Fernandez